sexta-feira, setembro 29, 2006

versinho triste


estou tristíssima
tanto que já não há o que dizer
meus olhos se calam perante a grande novidade
pois estou tristíssima
meus tímpanos não ressoam mais agrados adocicados
de voz idônea
nem canto angelical de criança se reconhece mais por eles
triste,tristíssima
sem que haja razão para expor fatos, lisonjear penúrias
acumuladas no cansaço dos ouvidos empoeirados
triste...e minha tristeza é tristíssima
é mulher que canta no por do sol cinzento,
amanhece sozinha abraçada a um lamento, tristíssimo.
pois não há ninguém em seu compasso
sozinha, grávida de uma dor sem pai
triste,chorando se vai
mais outra lágrima que cai
dissonante da aurora que sai
colorindo noutra manhã
centenas de outros sorrisos
tristíssimos...

terça-feira, setembro 26, 2006

um pouco de carinho


Um pouco de abraço na hora da dor, um pouco de esperança e ir seguindo em frente

um doce e um brinquedo pra abafar o choro

que a gente é menino e precisa sempre de mãe pra cuidar

de mão pra afagar o destempero no olhar ladeira abaixo ou acima

num sempre dia de feriado que amanhã não tem escola

num ir-se indo a gargalhar pela feira, de nariz escorrendo

sem culpa e o mundo pequeno que não cabe na risada...o céu azul rodopiando

junto com o papagaio colorido

um deixa eu ir que mainha ta me esperando com feijão no fogo e eu ainda nem passei no armazém...

um trisco de sujeira pra marcar história

daquele dia que a gente se perdeu no meio do mato e acabou vendo o mundo de olhos fechados,

mãos abertas

e num conta pra ninguém viu?

depois aquela manga docinha

com gosto de inocência,mesmo assim

o olhar perdido a lembrar outros dias de luz, com cheiro e tudo

outros dias de paz, com futuro e tudo...

um pouco de canção pra alimentar a fantasia de amor eterno

e treinar primeiro beijo na palma da mão ou no bagaço da laranja

que é pra não fazer feio ou somente pra imaginar que aquela pessoa ta mesmo ali com você

e sentir o coração acelerar quando passar perto daquela casa...

um pouco de saudade quando se esquecer de dar valor àquele exato instante

seja ele vivido com alma

mesmo que seja uma conversinha de esquina com o vizinho ou um encontro casual

com uma antiga colega do colégio

mais um bucadinho de pieguice pra se encantar de novo com aquele livrinho

que você já leu quinhentas vezes ou pra ouvir a história da sua vó quando era moça

que ela adora contar

mais de um suspirar ao ver a lua linda no céu,

mesmo na indecisão de não saber em quem pensar...

um pouquinho de briga e depois as pazes com mil abraços,só pra apimentar

e uma pitadinha de ciúme pra medir o tamanho do desejo...

pra você, eu desejo em absoluto essas pequenas porções de vida

se não for assim de tantas outras formas,

sinta carinho,passe carinho, seja carinho...

e uma eterna sensação de mãos dadas com o pai no primeiro dia de aula

naquela cidade nova...

sexta-feira, setembro 22, 2006

amor de menina ou poesia sem dono...


Abre-me agora a porta pra tua alma

Abraça-me, completa-me

Deixa-me desvendar a leveza refletida

Mistério mais que oculto em lábios róseos

Assassinos de super ego

Ata-me como se atam bandidos em flagrante

Por amar teu peito puro

Antes jamais desnudo

Ata-me junto esta fonte

E morrerei de saciedade como se livre fosse

Pois no mundo além dos impossíveis

Amo-te como se fosse carne viva

Embora sepulcro em mim de ilusões perdidas

Em noites iguais

Como em favas de mel a debruçar-me

Debruço-me sobre teus cabelos

E colho néctar qual rainha,

São fios de ouro a banhar-me os dedos

Deita-te, afaga-me e sorri

Contigo a olhar o céu

Onde mais poderia eu estar?

Admiras essa raiz aberta em meu peito

Entendes o porquê de a ti somente pertencer

Todas as letras compostas de vermelho

Todos os toques contidos em sorrisos

Todas as canções, as que fiz e que não fiz

Todo meu exagero

Por ter me dado toda e somente só

Permaneço

Ardo por inteiro e do avesso

Com destino selado

Tua, desde o começo.

quarta-feira, setembro 20, 2006

rosa flor




o que dizer das flores quando estas lhe sorriem amorosas
verdes, róseas, destilando amores
sob a brisa comparsa!
o que dizer de tão suaves pétalas a roçar-me a face
de olhos fechados passo a negar-lhe espinhos
pois os atribuo a tudo menos a elas...
rosas primaveris, agigantadoras de risos infantis
maternais que sois e tão cúmplices dos amantes mortais
mas do imortal e sonoro amor jamais provais
amor que rebumba em versos
amor que se recolhe em flor
e na cabeça do pobre insensato não rima com dor
rosas pétalas,vermelhas que pintei de sangue quando amei
vós que cubris meu caminho
e a quem culpa alguma jamais imputei
rosas em flor que desabrochas
choras de amor?
ou apenas ris de mim,flor de lis?
que em ti vejo tantas faces e dou-te nomes como se pessoas fosses
não tens manto rosa branca
pois teu branco é de santa
é por seres brilho de Deus
é por seres reflexo meu.

quinta-feira, setembro 14, 2006

quem não pensa nEle?





Se eu pudesse transpor o tempo e suas dificuldades
não estaria nisso que chamam de vida
se não sentisse em mim cada farpa sonora de desentedimento
não provaria o sabor do ser humano
se as paixões táteis não me tomassem de súbito o entendimento
e a eternidade ao mesmo tempo fosse do tamanho do meu coração
quem sabe eu não sofreria?
mas quem disse que não sofrem os vermes?
primeiro por não saberem o que é Deus
essa força mais-que
esse ser-dono
ser-pai
que não morre nem que o mais brilhante mortal o decrete...
alguns humanos adoram ser vermes
mesmo amando
[ pois o amor em si a quem pode redimir senão o objeto? ]
...
e amo o Pai, amo o Filho
amo o Espírito Santo
e sinto as farpas dessa confissão
amo e decaio do amor, como um velho da escada
amo e chego ao fundo do poço
e enxergo luz no fim do túnel
amo e sou a própria luz
e meu ódio não me entende
por que aborreço o que dele antes era feito
por que o torno em ódio para glorificação final...
sou amada
e por isso creio.

segunda-feira, setembro 11, 2006

quem não pensa nela?

Ao aviso de chegada
ser da agonia que desperta
dalém mar, dalém terra
dalém donde possam ver
quiçá mortais os olhos que inda refulgem
chegando de viagem muito menos esperada
que a todo bom vivant arrepia
as vezes maldita e sombria
ora carimba enlevo pessoal
na fogueira vaidosa de alguma religião
menos festejada por beatas, padres e sacristia
cruzes, corujas, lua cheia
a rechear fantasia
de quem ainda não pode voltar
desgaste de nervos,sensações difusas
romagem de lágrimas
e saudades ditas eternas [como se o mero desejo a traspassasse]
na lápide jaz novo nascimento
com nome,data e testemunho
e sacrifício e banquete
do verme ao ladrão
se desfazendo em dor de mãe
ignorando sonhos típicos da fase
encerrados no cerrar palpebrado
será quando vale o mármore
nele que ardam de agora
expectativa naturalista
a corroer despojo frio e suculento
verme e ladrão
confundem-se novamente em vã filosofia
no apodrecer da carne tudo se equivale...
mas fico
para os que ainda vão
em coisas minhas
imprimo rosto em fitas azuis e vermelhas
em centavos esmolados do destino...
prometa-me que fico em ti meu cavalheiro e dou-te meu coração que já não bate mais
já não pulsa mais aquele a quem buscaste,
prometa-me mesmo assim meu senhor
e avanço a posteridade
nas folhas de meu caderno, na saliva
deixo suspiros suspensos no ar
como lembrança a quem queira
de quem por aqui amou, sonhou
e sentiu cada gota de chuva como se fosse a última...

sexta-feira, setembro 01, 2006

Infinitude

personnage à une fenêtre, salvador dali



Infinitude

Não ficarão as coisas findas

Senão na imaginação...

Ou na memória que a vida

Pouco a pouco modifica.

Topázios, safiras, diamantes,

Resistem pela frieza,

Pela dureza preciosa

Tal como o meu coração.

Contudo,

Há vastíssimos oceanos

Esperando a travessia,

E há a vertigem do amor

Que a noite transforma em dia

(E a alegria dos outros gerando a nossa alegria)

Inútil dissimular

Essa tristeza que invade

O sonho, o silêncio, à tarde.

Pois nenhuma contenda explica

Essa dor que vem e fica,

Como relíquia preciosa

de guerras ultrapassadas

(e palavras mentirosas).

Contudo, vale deixar,

Matéria tão nobre e pura

Para reflexões futuras.

Agora é continuar...

E foi assim que dei de rosto

Com a humana desventura,

Preferindo sucumbir,

a essa chama interna e pura,

à ter por bem assentado,

o entendimento do mundo,

ou melhor, a sua fábula,

o esplêndido banquete

para a curiosidade

de artífices, capitães, reis,

filósofos, teólogos,

que andam atrás da verdade

como uma pessoa viva ,

uma pessoa que exista

com carne, osso e coragem.

Ninguém me conduziu,

Senão o gosto de reviver o que estaria morto,

e se a palavra escrita não coubesse

o poder que tem e lhe confere,

por acréscimo, nossa releitura

de reviver qual chama ao menor sopro.

Fica assim inaugurada

uma nova forma rara,

de estar sempre na eminência,

naquela espécie de véspera,

que desafia o mistério

do encontro pleno, completo

E por que não mude de ânimo

(seria fácil remédio),

Faço um pacto com o infinito,

Deixando o primeiro capítulo

Adiar-se para amanhã

e depois para depois de amanhã,

e muitas outras manhãs claras e perfeitas,

qual convém ao que se deita

cedo para bem cuidar

seu campo e sua colheita

Falar de amor não é apenas

Atravessar algum deserto

e de repente, sem querer

chegar ao Oásis singelo,

espaço luminoso e úmido,

onde os destemidos se perdem,

na urgência de beber

da água límpida que surge da terra

com leques de altas palmeiras

cobrindo com o seu verde a areia.

Amar é ficar no deserto,

Com sua sede

E sua imensa desolação de céu aberto.

Por isso a recusa perene

Da mesa farta à razão

Para o convite que vos faço

Levando em conta o coração,

Levando em conta as exigências

A que sem querer nos obriga

Tal como ao vento no campo

Se verga do milho a espiga.

(Raquel Dantas Duarte, em 29/10/01 após assistir ao programa do Jô)