sábado, agosto 25, 2007

reflexões de um verme

Num só corpo errante
pela vida de ser vivo
um espelho de cem eras
que não acabam no devido instante
em que se encerra um só nome de nascimento
todavia em um só peito pulsam mil corações
encarnados em histórias indissolutas
possue não só alma e vigor
possue sentenças de morte não-cumpridas
um tal fugitivo no corredor infinito do castigo...
mil cadáveres apodrecidos
um futuro esqueleto decadente
soterrado a mil pés da luz
pisoteado a juízo por outros cem novos mortos.
um morto a outro julgou
foi incapaz de penetrar-lhe as carnes
para apalpar o coração de chumbo
pois suas mãos putrefatas já estavam algemadas
no abismo das próprias faltas
mas o que é um vivo senão um futuro morto?
banquete de vermes!
ouví-me!
de abundante satisfação alimenta agora tuas carnes
e atende a todos os desejos dela
gozem do fruto da precipitação
todos aqueles que cairão em meus braços
nuvenzinhas carregadas de chuva
que não se evaporam
e ainda assim fazem sonhar os chacais no deserto
não passais de lama!
há sonho em tuas aveludadas ondas cerebrais?
ousas sonhar...bem o sei
pois saiba que tu e tu mesmo
com sonhos e sangue regarás a terra onde se revolvem os rivais da eternidade:
vossos irmãos vermes!
não passais de futuras espigas remexidas no chiqueiro,
lápides presentes e esquecidas no celeiro sem nome
e no covil dos melhores escritores
um convite póstumo à eternidade
agarra-te a tua alma
livrar-te-á então de minhas garras
pois almas não convém ao meu paladar
almas não tem carne crua
por isso mesmo não pecam
alguams delas são de pedra e insistem em azedar seus corpos
provando a existência pelo avesso
desperdício à minha prole!
contudo nada poderiam fazer para anular o contrato de Deus
prazer garantido aos meus sentidos
que antecede entrada triunfal do reino dos céus.

terça-feira, agosto 21, 2007

Hebreus 1: 1-12


Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas,
nestes últimos dias, nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o universo.

Ele, que é o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser, sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, depois de ter feito a purificação dos pecados, assentou-se à direita da Majestade, nas alturas,

tendo-se tornado tão superior aos anjos quanto herdou mais excelente nome do que eles.

Pois a qual dos anjos disse jamais: Tu és meu Filho, eu hoje te gerei? E outra vez: Eu lhe serei Pai, e ele me será Filho?

E, novamente, ao introduzir o Primogênito no mundo, diz: E todos os anjos de Deus o adorem.

Ainda, quanto aos anjos, diz: Aquele que a seus anjos faz ventos, e a seus ministros, labareda de fogo;

mas acerca do Filho: O teu trono, ó Deus, é para todo o sempre; e: Cetro de eqüidade é o cetro do seu reino.

Amaste a justiça e odiaste a iniqüidade; por isso, Deus,
o teu Deus, te ungiu com o óleo de alegria como a nenhum dos teus companheiros.
Ainda: No princípio, Senhor, lançaste os fundamentos da terra, e os céus são obra das tuas mãos;
eles perecerão; tu, porém, permaneces; sim, todos eles envelhecerão qual veste;
também, qual manto, os enrolarás, e, como vestes, serão igualmente mudados; tu, porém, és o mesmo, e os teus anos jamais terão fim.

...
*Anjo acordando o profeta ELIAS Óleo sobre tela de Juan Antonio de Frias e Escalante XVII° siècle (siglo XVII) Gemäldegalerie, Berlin Alemanha

quinta-feira, agosto 02, 2007

la lune


ontem o dia foi normal
meus olhos sonharam
na mesma velocidade
de uma gota parida nas nuvens
então meu sonho se despedaçou no chão
e mais uma vez eu acordei
sem o assombro do destino
que assim circunscreve
as fatalidades do dia-dia
ontem foi normal que eu me conformasse
e preparasse meus olhos para outra longa jornada
de vôos breves,vôos de lança
pequeno espaço entre a gravidade e o pensamento
proximidade com o infinito
que deixam meus olhos repletos de estrelas
ao contemplar um céu coberto de nuvens carregadas...
* no hay quien nos desate - GOYA