sexta-feira, novembro 30, 2007

esquizolândia

Quando me falta inspiração para a vida
e as rodas de alegria infâme são nada mais que poeiras de tédio
poluindo minha garganta...
quando os sorrisos efusivos que recolho e passo adiante
nada mais são que mera ginástica facial...
quando me canso de tudo isso, quando me escaldo de tudo isso
quando me lavo disso tudo, me esfrego, me passo me guardo, me seco de tudo isso
puxo uma frase de debaixo do lençol, deito na cama,
abro meu caderno
e sobre a passividade devota do meu amante
transponho-me a claridade de um mundo que é só meu
conduzida pelo rastro negro multicor daquela tinta
sou levada impassível a um estranho lugar
ouço gritos da zombaria fanfarrã, dos seres sociais
a festejar sua unidade [a qual não pertenço]
ficando pra trás...
pertenço a unidade enigmãtica dos não-lugares,
das icógnitas criaturas que por lá transitam
observando-as, em expressões frias me torno uma com elas
estabelecendo vínculos, criando-lhes histórias
dando-lhes nomes, filhos,
acentos agudos e circunflexos
sendo íntima , viajo nesses seres que são meus.
sou mais deles que eles meus.somos.um grande apanhado de possessividades.
tenho meu grupo e não preciso de mais nada
enquanto penso nisso
alguém vem e sorri para mim com mãos em palma
sem precisar saber meu nome pois já gosta de mim
somos amigas de infância e já viajamos juntas
pergunto se poderia ser assim também com as pessoas do mundo de cá...
...silêncio...achamos desnecessário entrar no assunto.

sábado, novembro 24, 2007

é cinza


Quando o ar noturno se move sobre a superfície calamitosa da terra ardente
Desdobra-se em dias amanhecidos em cinza, recai sobre noites serenas a angústia dos cosmonautas....
ainda que venha umidade de chuva a semear bonança, junto ao zelo longitudinal de galhos secos,voz sozinha,
diluída em mar revolto de divagações...mais que contruções sonoras de algumas sensações...sente o muito do inesperado que o cinza abriga em tempestade
pressente e se retorce...
numa antipatia com o acaso que é perene.
tem pressa do destino
tem ânsias guturais
os reis da noite sonham e fazem pedidos
os reis da noite...
consideram seus caminhos e bebem vinho
para a limpidez que a nuvem acizentada abriga
levar o vermelho impuro de seus pecados
na impenetrabilidade opaca e dura dessas cores
corre o rio que sou eu...

quarta-feira, novembro 21, 2007

Devaneios do absurdo


Se os olhos estão abertos na expectativa de uma aurora eternal,
as pálpebras se alargam na amplitude do infinito...
É um desejo que cria asas e vai buscar em Deus o segredo do destino.
No escuro se escondeu a flama estranha do senhor Morpheu,
revelando-se somente aos bravos que ousam com olhos abertos sonhar
pois que adianta ter a luz acesa se os olhos permanecerem fechados?
Ao que pergunta, as portas estarão sempre abertas
em devaneios de absurdo está o segredo da esfinge...
Respostas são como um espelho que se explode em mil pedaços:
a surpresa do vir a ser - mistério de borboletas e lagartas-
no final, um começo e o recomeço de um novo caminho
que se importa diretamente das pérolas abrigadas em cada ser vivente
sejam em palmas, sejam em almas
ou em tudo que se abra qual portal
iluminando a iluminância dos filhos daquele que ouve orações.
Um sorriso divino é sempre pleno
se desdobra em significância quando traduzido em coisas simples
torna-se perfeito como o brilho que emana do grande que se faz pequeno, por amor
e do sábio que torna-se louco, por virtude
presentes raros com carimbos certos.
Tudo é exato.

sexta-feira, novembro 09, 2007

rastro...


Para que não se diga que não amei
Eis as marcas no corpo
Eis a mácula de não ter pecado
Ainda que desejado
Para que não se diga que não havia em vão tentado
Estendo o tapete vermelho gasto
E um rastro deixando-lhe o nome
Outrora soletrado em areia de mar
Meus pés incansáveis se foram
e voltaram sem afagos.
Meus pés cansaram e se perderam nas ondas...
Para que finjas que não finges
Abrilhanto teu sorriso com a verdade do meu sorriso
Com a mentira do meu silêncio, alimento tua indiferença
Entre tantas outras indiferenças
Que levo guardadas na manga
Pego-te de surpresa com verborragias em erupção
Tragos de solidão em teu morno ouvido!
Na simetria de tua amplitude cinestésica
Não calculo nem mesmo meus passos
Tropeço nos exageros
e dou de cara com tua sensatez malvada
Para que não se diga por aí que não penso
Que não sei, que não perscruto
Relato aqui um fracassado plano de conquista
Com ares de quem veio, viu e venceu.


Setembro de 2006