domingo, maio 31, 2009

final de tarde


Uma vez encontrei uma menina triste

Ela tinha nome de flor

Era negra como a noite

Tristonha feito o mar

Desejava possuir os mistérios dela

Como penduricalhos entre os dedos

Mas ficou demasiado tarde

A primavera floriu seu vestido antes que eu pudesse abraçá-la

Ela foi embora feliz da vida

E eu triste como antes



Três Marias ou canto do filho morto de Zeus


Possuía três amantes

E com as três levava uma vida de deus

Sobre os montes e

Os cabelos,

Dorsos, tornozelos,

Sina de mulher

Profanava a tríplice sapiência ( sabedoria é anca de mulher )

Enfiava a língua onde não devia

No triunvirato de minhas putas-raparigas

Madre deus , ave Maria

O mundo as trata com a delicadeza que me falta

Elas pressentiam a não fineza em meus gestos

Bendiziam o silêncio presente

Entregavam-se resignadas

Pois ouro e sangue engalfinhavam-se veia afora de meus membros potentes

Agora extintos

Mistura vil, libidinosa, a transpassar minha lucidez com fome e ânsia

Pela maciez terrenal

Nenhuma dessas santas ama-me, amamenta-me

Eu as possuía como a terra possui as nuvens

Hoje sou temerário com todas elas, em um corpo dourado e exangue



terça-feira, maio 12, 2009

Dezembro


Sinto o ar diferente em dezembro
Meu corpo responde
farejo novidade
O sol está diferente, um pouco mais solene.
O vento calou-se, mas ainda assobia.
Meu coração perturbou a maré de quinta à tarde
Meu sono mudou de súbito a mente do pássaro veloz
Seu ritmo jaz descompassado
A natureza sussurrou uma canção divina e eu escutei
Escutei e calei, parei tudo o que fazia
E disse com ar de senhora de si: olha, mudou...
Depois continuei errando o caminho de antes
Mas não era mais a mesma, tinha mudado com a natureza.
É que entendi a anunciação
Contemplando a janela que dava para os mistérios da noite
Minha janela sempre dá para os mistérios da noite
Com suas nuvens púrpuras,
Minha janela sempre me diz alguma coisa...
Sobe agora por minhas pernas uma brisa fria
Não é qualquer brisa
É um fiapo de brisa gelado
Em dezembro
Poderia ser em qualquer mês
Mas eu a sinto em dezembro
Ela desce para mim
Nós dançamos um espetáculo de mistério
Que minha alma entende, mas eu não sei explicar
Talvez seja isso que o lobo saiba também...
Talvez seja isso que faça o passarinho voar...

escala em si

Neste universo onde tudo orbita
Orbito também eu
O mundo gira em torno da libertação
Os homens, das mulheres
As mulheres fazem tudo girar
Dizem que é amor
Dizem que é sexo
Uns não conseguem separar
E eu que fui inteira
vejo tudo flutuando
No mesmo bocado de infinito
Não sou nem isso, nem aquilo
Não estou cá nem acolá
Meu corpo é satélite de dor
Não sei brincar de ser brinquedo
Ando nos degraus das escalas cósmicas oitavadas
A propagar meu abandono
À procura de um astro-rei
Que não me renegue o trono
Que me faça inteira de novo
E que estenda o tapete vermelho do tempo
sob meus pés desnudos
Que eu caminhe por ele
espremendo a latitude e a longitude
entre meus dedos solitários
Derramando ouro e sangue
no carnaval da terra.

domingo, maio 10, 2009

Da puta ao Dragão de bigodes*





Eu cansei da divagação alheia com entonação cúbica de não pertencer a isto aqui. Eu quero é ver alguma coisa realmente de fora. De fora da terra. De fora de mim. De fora dos mil olhos que vomitam realidade em meus poros cotidianamorficamente. Porque ninguém pertence, cu!

Não há discurso que valha. Só há necessidade. Não há pertence, nem estaca, nada pertence. Não é só o fulaninho ali nem vocezinha aqui. É tudo. Da puta ao dragão de bigodes. Por isso canso dessa separação eterna com os deuses que se esqueceram de acordar. Cansei do melaço gotejante, das pérolas musguentas de vaidades intelectuantes, dos pseudos- sabiduchos-barbotóideos e das tietíferas adoradoras de falos hablantes.
Eu quero o halo divino, merda!

Eu não vejo novela não, menino! Preciso dizer? Mereço um prêmio? Nem pulo janela... Até queria....Eu descanso em parapeitos, cansada dos gritos na minha cabeça. Eu fico na janela do quinto, pra ver o suicídio de meus pensamentos... Cascatóides catarriferos. Caralho, ninguém quer feiúra. Lamber feiúra. Ninguém quer...E eles num são bonitos não! São repetitivos, são clichês, cão sarnento! Pensamento e palavra servem pra quê?

Cala a boca, cala, eu não gosto de você. Nem de você. Nem de você. Sabe como é que eu me defendo? Balançando a bunda pra dentro e a cabeça pra fora. Eu vou embora.
Odeio ter virado moda dizer: eu não sou legal. Eu tenho um xuxu e ele é só meu...meu bem... Odeio essa felação diária do meu astral no alheio. Eu vou embora. Odeio que tenha virado moda comidinha natural, só porque os poucos que pensam (odeio quem descobriu o pensamento. Arouet cadê você?) que descobriram a moda no buraco mais próximo... se acham donos e únicos verdadeiros praticantes de qualquer nova moda que lhes apareça... Pro raio que os parta, parte raio, parte, parte!

Mas minha filha, tem que gostar e querer a coisa caladinha entendendo pra dentro, é? É. Explico só porque explodiu tudo aqui e foi merda pra todo lado, nem o kalanchoe aguentou, coitado. Mas depois não explico mais. Eu sei das coisas, sou cheia das sabiduria! Sabe quem eu já fui em vidas passadas? Já fui rei. Puta não. Todo mundo foi puta e eu comia as putas que todo mundo foi. Já fui mendigo, já empunhei um punhal, um terço, uma cobra, um baú bla bla bla. E agora eu num tenho mais o direito de mandar no meu próprio buraco???

Graças a deus, glória a deus, aleluia OM Tat Sat! É Shiva com Jesuis, é Maria com Cassandra, Krishna, Krishna, hare, hare. Dai que minhas roupas continuam as mesmas, de panozinho chinfrim sem graça e sem apologia, uma blusa de cor inteira com uma calça que vai rasgar daqui a pouco. Mas meu interior, madame Vortex, o buraco é todinho MEU, inteirinho, e lá não é preciso dormir para sonhar. Talvez o seu também, mas agora eu to falando de mim, se cale. Lá a vaca voa e urubu come maçã...

Este é um aforismo de Magdalena para Carmem. Benditas sejam vossas lagrimas e vossos pregos. O resto pra mim é arco-iris. Eu vou embora. Você também.

Amem?


* revisto e editado pela Srta Preta Pezuda