Sinto o ar diferente em dezembro Meu corpo responde farejo novidade O sol está diferente, um pouco mais solene. O vento calou-se, mas ainda assobia. Meu coração perturbou a maré de quinta à tarde Meu sono mudou de súbito a mente do pássaro veloz Seu ritmo jaz descompassado A natureza sussurrou uma canção divina e eu escutei Escutei e calei, parei tudo o que fazia E disse com ar de senhora de si: olha, mudou... Depois continuei errando o caminho de antes Mas não era mais a mesma, tinha mudado com a natureza. É que entendi a anunciação Contemplando a janela que dava para os mistérios da noite Minha janela sempre dá para os mistérios da noite Com suas nuvens púrpuras, Minha janela sempre me diz alguma coisa... Sobe agora por minhas pernas uma brisa fria Não é qualquer brisa É um fiapo de brisa gelado Em dezembro Poderia ser em qualquer mês Mas eu a sinto em dezembro Ela desce para mim Nós dançamos um espetáculo de mistério Que minha alma entende, mas eu não sei explicar Talvez seja isso que o lobo saiba também... Talvez seja isso que faça o passarinho voar...
Neste universo onde tudo orbita Orbito também eu O mundo gira em torno da libertação Os homens, das mulheres As mulheres fazem tudo girar Dizem que é amor Dizem que é sexo
Uns não conseguem separar E eu que fui inteira vejo tudo flutuando No mesmo bocado de infinito Não sou nem isso, nem aquilo Não estou cá nem acolá Meu corpo é satélite de dor Não sei brincar de ser brinquedo Ando nos degraus das escalas cósmicas oitavadas A propagar meu abandono À procura de um astro-rei Que não me renegue o trono Que me faça inteira de novo E que estenda o tapete vermelho do tempo sob meus pés desnudos Que eu caminhe por ele espremendo a latitude e a longitude entre meus dedos solitários Derramando ouro e sangue no carnaval da terra.
Eu cansei da divagação alheia com entonação cúbica de não pertencer a isto aqui. Eu quero é ver alguma coisa realmente de fora. De fora da terra. De fora de mim. De fora dos mil olhos que vomitam realidade em meus poros cotidianamorficamente. Porque ninguém pertence, cu!
Não há discurso que valha. Só há necessidade. Não há pertence, nem estaca, nada pertence. Não é só o fulaninho ali nem vocezinha aqui. É tudo. Da puta ao dragão de bigodes. Por isso canso dessa separação eterna com os deuses que se esqueceram de acordar. Cansei do melaço gotejante, das pérolas musguentas de vaidades intelectuantes, dos pseudos- sabiduchos-barbotóideos e das tietíferas adoradoras de falos hablantes.
Eu quero o halo divino, merda!
Eu não vejo novela não, menino! Preciso dizer? Mereço um prêmio? Nem pulo janela... Até queria....Eu descanso em parapeitos, cansada dos gritos na minha cabeça. Eu fico na janela do quinto, pra ver o suicídio de meus pensamentos... Cascatóides catarriferos. Caralho, ninguém quer feiúra. Lamber feiúra. Ninguém quer...E eles num são bonitos não! São repetitivos, são clichês, cão sarnento! Pensamento e palavra servem pra quê?
Cala a boca, cala, eu não gosto de você. Nem de você. Nem de você. Sabe como é que eu me defendo? Balançando a bunda pra dentro e a cabeça pra fora. Eu vou embora.
Odeio ter virado moda dizer: eu não sou legal. Eu tenho um xuxu e ele é só meu...meu bem... Odeio essa felação diária do meu astral no alheio. Eu vou embora. Odeio que tenha virado moda comidinha natural, só porque os poucos que pensam (odeio quem descobriu o pensamento. Arouet cadê você?) que descobriram a moda no buraco mais próximo... se acham donos e únicos verdadeiros praticantes de qualquer nova moda que lhes apareça... Pro raio que os parta, parte raio, parte, parte!
Mas minha filha, tem que gostar e querer a coisa caladinha entendendo pra dentro, é? É. Explico só porque explodiu tudo aqui e foi merda pra todo lado, nem o kalanchoe aguentou, coitado. Mas depois não explico mais. Eu sei das coisas, sou cheia das sabiduria! Sabe quem eu já fui em vidas passadas? Já fui rei. Puta não. Todo mundo foi puta e eu comia as putas que todo mundo foi. Já fui mendigo, já empunhei um punhal, um terço, uma cobra, um baú bla bla bla. E agora eu num tenho mais o direito de mandar no meu próprio buraco???
Graças a deus, glória a deus, aleluia OM Tat Sat! É Shiva com Jesuis, é Maria com Cassandra, Krishna, Krishna, hare, hare. Dai que minhas roupas continuam as mesmas, de panozinho chinfrim sem graça e sem apologia, uma blusa de cor inteira com uma calça que vai rasgar daqui a pouco. Mas meu interior, madame Vortex, o buraco é todinho MEU, inteirinho, e lá não é preciso dormir para sonhar. Talvez o seu também, mas agora eu to falando de mim, se cale. Lá a vaca voa e urubu come maçã...
Este é um aforismo de Magdalena para Carmem. Benditas sejam vossas lagrimas e vossos pregos. O resto pra mim é arco-iris. Eu vou embora. Você também.
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