quarta-feira, novembro 26, 2008

Castanho




Castanha de caju
Na antítese da dureza
A alegria é toda azul
Nessas ondas de castanheza
Brancura alva de colo perfeito e nu
Formosura de pele que é sonho,
Alvura crua de pura delicadeza
Vejo seus olhos sorrirem
Enquanto o sorriso abraça o mundo
Eu sem pressa vou fundo
E sem barco abarco seu oceano profundo

segunda-feira, novembro 24, 2008



Na lisura de seus cabelos nítidos
De pureza infinda, há uma menina a bailar
De contornos adocicados, que serão sempre lembrados como o lado bom de toda história.
Estendo a mão, atravesso seu sorriso.
Provo das delícias de sua boca leve
Visito-lhe os recônditos mais ocultos
No entanto não ouso profanar-lhe a divindade
Pois para mim seus mistérios são feitos de melodia e arte.
E assim me purifico
Lá dentro onde tudo arde em segredo,
Lá onde a palavra não caiba
Quero amá-la de um amor maternal e em silêncio...
Menina de pele alva e quente
Possui uma alma quente que se contorce de vertigem
Perante as coisas da vida
E sabe o que é bom
E se entristece com os que são tristes sem perder a altivez do sangue azul que carrega em si.
Ela é toda azul, é luz azul, de um planeta azul.
Raio lunar que atravessa meu ser inteiro
Penso nela horas e horas, me transporto para longe, lá onde não existe o tempo...
Não consigo desvendá-la
Não preciso
Aqui de fora o que me resta é admirá-la
E isso basta.

domingo, novembro 23, 2008

A tristessa



Acreditar é preciso
A fé é o solavanco dos fracos em meio à agonia
Dizem que quem acredita em alguma coisa segue em frente
Mesmo que esteja a beira de um precipício...
Eu, em mim acredito.
Acredito nessa tristeza também e na tristeza do mundo que carrego no peito
Pois sei que verto a dor do mundo em lágrimas no leito
Sei e vejo e nisso não possuo mérito, sou apenas coisa que coisifica.
Esse é meu milagre
Acreditar e ser a coisa acreditada ao mesmo tempo
Pois de algum lugar vem a solidão e preenche meu vazio
Espaços espaçados de espelhos que apontam para o nada
Mas vazios se corrompem à medida que rompem a barreira das palavras
E eu que sempre fui dada ao muito sentir, agora contemplo o vazio de água.
Em silêncio e cansaço, como as velhinhas a rezar.
Atendo minha reverência escutando sozinha a ausência de deus
Sonhando com a morte na janela da vida,
pintando paredes com sangue profano.
Eu sangro
Ter fé naquilo que nunca existiu: a morte do tempo
O tempo da morte, a morte no tempo.

quarta-feira, novembro 19, 2008

Nanã



Eu carrego em meu peito
A amargura de ter peitos
E trago no corpo a sina e a seiva
Que alimentam as células dos covardes homens
se as células são felizes é porque vivem
Na beleza e na sutileza da não amargura de não terem sexo
Já eu me derramo em leite branco
Nas paredes ácidas, nos corpos densos do universo masculino
Não tenho anseios maternais
Tampouco hei de me sufocar em volúpia e culpa
Bendito o ser que vive agora
Bendita a espécie que não se perpetua
Nos vagões do tempo perdido na memória

terça-feira, novembro 11, 2008

Descanso e descaso do acaso




Sigo meu caminho sem pressa
Sei que o rio vai na estrada suave, dando vida a quem o permeia
E o homem é quem paga por seu exagero na cheia,
O rio nunca se exalta
A natureza é que é sempre exata
E a natureza humana sempre derradeira
A proclamar seus verbos no intercalço da palavra
Eu somente sento e me esqueço
Sei que sigo meu caminho na pausa
Pois estou cheia de todo lugar
O todo é tudo no fundo de mim
E eu só uma só com meus versos, não me pasmo de tudo isso
Sigo meu caminho em paz
Sabendo que a luz é que faz a lua ser cheia

segunda-feira, novembro 10, 2008

Madre-Deus




Dá-me a quentura de teus braços
Porque de mim prefiro mergulhar em tua palma que oferecer a outra face ao ritmo dessa loucura
Dá-me tuas mãos que esse mundo é louco e vasto
Para uma alma que não conhece o desamor
Sem o teu compasso eu me perderia na escuridão
Que a música dos teus lábios cante para mim doce sinfonia
Pra eu não me perder ou para que me perca nos acordes de sonhar ao teu lado
Deixa-me permanecer assim de mansinho
Repousando assim a cabeça em teu colo
Conta-me um pouco mais da luz e do sonho que é voar pelas estrelas
Dita um pouco mais as regras do meu destino
Lava-me um pouco mais a face e as lágrimas das intempéries de ser somente menino...

domingo, novembro 09, 2008

Eu vento




Eu quero o vento
Quero arder qual chama no ar
Onde arde o pensamento
Quero ferver por entre as brumas da tarde
Contradizendo o ar fresco da estação
Eu quero o vento e quero que ele me leve
Quero correr livre de olhos fechados, beijar a pele, saudar a quintessência da humanidade
Que o vento não vê, mas que eleva sentimentos qual passarinhos
Que o ar puro e branco da manhã sossegue o desnível de minha parca divindade
Que eu possa ver olhos nos olhos a invisível verdade de todos nós
E que meus pêlos se ericem junto aos cabelos das donzelas
Nós no grande uníssono com a natureza
Um grande todo na fluidez do tempo
Eis a verdade que só o vento sabe
Vento é ar em movimento
É prova cabal de que aquilo que não se vê
É o que mais pode nos tocar.