quarta-feira, junho 04, 2008

Às cinco


Eram cinco da tarde.
O chapéu negro da pausa e da espera
Ainda estava lá.
Havia esperado o dia todo na greta, encarando apenas o chapéu escuro
enquanto o turbilhão de segundos
Zuniam em meus ouvidos, contradizendo a espera da espera
O tempo não ia passar.
Arremessava o corpo contra a cadeira enquanto o gelo se derretia
Vagarosamente no copo
O calor só subia em mim, o gelo era indiferente ao meu estado
Tudo estava em seu devido lugar, até o maldito assoalho recém polido
Que fazia as vezes de espelho mostrando a face cinza da espera.
As paredes, a sala e o teto faziam coro com o chapéu preto: ele não está aqui.
Nem vai estar amanhã ás cinco.
Todas as imagens, todas as escolhas, todas as estimas
Passavam sucessivamente, repetidamente das minhas retinas
para as entranhas,
desaguavam em pensamentos mórbidos e escuros no porão da minha casa
sou um espírito fanfarrão, ao menos creio
mas há dias em que me torno sombra escura na penumbra da ausência...
Enquanto o relógio zomba do meu ânimo.
Eram cinco da tarde
No decorrer da preguiça do tempo
Eu gritava ansiosa aos ponteiros que por favor
Corressem...mas os ponteiros não ouvem,
Ponteiros apontam inevitavelmente pra algum lugar
E me apontavam o derradeiro suspiro de lástima, pra recomeçar no segundo restante,
às cinco da tarde.
Havia pensado em xingar
Em dizer-lhe algo irritante, com certeza diria
Ou talvez não
Mas aquele chapéu, sinal de que uma cabeça vazia vagava e sorria solta pelo espaço infinito de tempo
Que algum deus da tarde lhe concedera, em plenas cinco horas de sofrimento...
Limitei-me a continuar respirando
minhas unhas rasgavam meus pensamentos como seda
E o vazio dava seus tiros secos em minha solidão.
Sinal de que, ele jamais voltaria
Nem mesmo pelo chapéu...

4 comentários:

Anônimo disse...

triste hein?

=/

:* quélia ¬¬

Camila Sousa de Almeida disse...

mas tudo tem 2 lados... ;)

mais uma vez: vc é boua!


=*

Silvana disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Silvana disse...

A ansiedade pelo outro..., sua espera; sua ausência, solidão...

As tuas palavras te sobram, transbordam, e preenchem até mesmo aqueles que acham que não se admiram com mais nada.
Sou fã desse cantinho seu! =)