Se uma pomba branca eu fosse
De paz poderia o céu colorir
Escreveria de branco sobre o céu anil
Imprimindo, faceira, paz
Sobre a cidade
Olhos negros de cobiça a contemplar-me
Veriam-me plena
Decretar o basta das malfadadas peças que em outra vida armei
Sim em outra vida quis o sangue
Bebi do sangue e me fartei
Troquei peças de lugar, da moral fiz chacota subversiva de mesa de bar
Em plena sacristia como um negro malandro sambei
Em roda a gargalhar da infâmia em brasa
E dela me alimentei
Hoje canto e faço gracejo
Sorrindo do ódio que me sorri
Cuspindo no desprezo que me cospe
Revolvendo-me na lama com dignidade
E rogando a Deus que faça de mim anjo
Anjo de seu querer
Somente um anjo
Desprovido de prazer e de corpo
Provido de zelo e bondade
Anjo que não ame para que não peque
Que não deseje para que não seja tolo
Que não acredite e não seja bobo
Nem cavalo escravo
Para que não caia em armadilhas estonteantes de cílios finos
Anjo... Que não sinta
Apenas anjo que voe
Uma simples pomba branca no céu
A imprimir vazio e paz
Sobre os telhados ardentes de alguma cidade