domingo, novembro 01, 2009

Beco





mudança


O verbo que grita
na boca que cala
eco que nada no abismo da falta
O texto e o gesto se excluindo na ausencia do som 

A mudança perplexa
nos ouvidos surdos
de gestos mudos
nos labios que se inter-calam

quarta-feira, outubro 28, 2009

Vaga-lume





Intensidade

que o olhar fagulha

Torneira aberta
Pedaços de chão se desfazendo ribanceira abaixo
Curva de rio
Laço de laçador
Que se compreende e se perfaz
No silencio anil do luar, antigo lume
Precede primavera preferida
Não há o que se pense na pausa,
O pulsar escorre vagamente
Leve, momentaneamente e oceana o som
Vai, deixa-te ir sabiamente
Fulgor eterno quando a lembrança se esquece
Aquece a folha o vento nu
Sol eterno, luz azul
Emergindo a piscar
Continuamente


domingo, outubro 25, 2009

Um sorriso em meu caminho



Elas sorriem.


Cúmplices dos mesmos crimes diferentes.


Iguais na vaidade e na miséria que não se escolhe, se acata.


Não podem não sorrir se o peito sangra.


Aliás, ele não pode sangrar se está em exposição e à venda.


Passam os carros e elas procuram estranhas curvas para aliviar essa tensão estomacal


Querer é igual a não querer.


Lamentar é luxo.


Gozar é um final de pleno desespero,


Cúmulo de Sujeira,


clemência e escuridão no templo de Deus.



.Camila Sousa



terça-feira, outubro 20, 2009

Ayer

A marca de ontem no rosto

A mente desnuda

Lentamente móveis debaixo dos panos

Respiro fundo e deixo ir

Recordações na poeira fina da sala

Se ontem o amor que preciso é hoje o que me falta

Abriram janelas em minha alma

Respiro fundo e me deixo ir

Aonde os pés me levem

Pois o leve flutua na bruma do pensar

Sem se deixar manchar de riso ou de saudade

Apenas vai avisando a vida que tudo se esvai

Respirando fundo e solta

Levemente

Sente

Sentimentalmente

domingo, outubro 11, 2009

Desambiguação


Todo mundo sentindo e eu aqui

Tomando goles de monotonia na estação de trem

Expurgando vômitos de inquietude pelos poros

e na lua que jorra culpa em meu copo

Se para lá ou para cá

Que importa?

Meu mundo danou-se

Restou esse alquebrado ser

Que escreve palavras rotas de enfado

Jogando cinza no imaginário alheio

Minha vida é uma patifaria rigorosa

Luar que chove na matéria anal dos substantivos femininos

Trago o traço de pirraça traçada

Pela mumificação de sorrisos impostos

Nada cobro

Eternizo-me na superfície do espelho


segunda-feira, agosto 17, 2009

Lembrança de Athena


De onde vem essas nuvens róseas brancas azuladas

E o conforto azul que a manhã levanta?

De onde vem essa certeza carmim, que explodiu em mim, quando abatidos, meus olhos encontraram alento de memória?

Poeira branca se movendo no espaço guardado, irredutível entre um e outro piscar, nada me tira de ti... Pois eu me lembro.

Para longe sei que foste um dia

Restou a ausência de tuas cores netunianas, impressas nas linhas de minha magnitude

Mas já não somos os mesmos

Meus olhar prefere não lançar lágrimas ao vento

Aguça-se a acidez do desconforto que é não estar em ti, não estar vivendo em ti

Assentir que outros façam o que me era habitual, abrindo os braços a receber-te, agita-me a irreverência incólume.

Rasgados fomos um do outro, palmo a palmo.Dedo a dedo.

Mas o que ficou ainda suspira como vento

Que dói em nossas pernas,

em nossa última presença em nós mesmas


quinta-feira, julho 30, 2009

Contentamento


Por entre torres brancas em cascata
o sol poente desfibrila
sobre passos nus e recalcados
geme a rosa ardente da oração
Trago meu corpo humilde e cansado
e me rasgo
perante a benção da extrema unção
oh agora não!
ainda não minha mãezinha
que não pequei por ter amado
que não chorei sem sentir dor
Me permita viver mais um bocado
beijar o lábio, tocar o corpo
sacralizar meu prazer
ou manchar o alvo chão de açucar e água,
ó minha carne compungida
absorve
a última seiva da humanidade
e morre!