Eu não existo
O que existe é a dúvida do que eu sou
Que se desdobra entre as angústias vociferantes do derradeiro náufrago da esperança
Eu existo nos ouvidos dos mortais que não ouvem
Não existo como existem os chacais
Que comem, engordam e solfejam o excremento da miséria humana
Eu existo somente nas intempéries da fé de cão
Que renuncia a matéria prima onde foi forjada
E ainda assim resiste entre as paredes sujas do horror e do medo transmutando-se no sêmem que fecunda a ganância que lança os homens no abismo
Eu existo na carne dilacerada dos cadáveres que matei
Eu existo na memória do que fui quando fundi sangue e fúria nos dentes dos leões
Eu existo e persisto na busca por um deus que insiste em me negar
Eu não existo como existem as velhinhas a rezar
Sou o que sou no resto de uma oração e de uma lágrima de fervor
Eu sou a força que as mãos espremem em meio à prece
Eu sou o não dar-se conta, o automatismo dos vermes
Imundos que se arrastam na boca e no ventre de quem os persegue
3 comentários:
Caramba... quélia.
tem certeza?
Se você não escrevesse eu escreveria. :D
Cru, forte, sangrando nas letras um pouco de gente.
...e você existe, com tudo que és... no meu coração... pra sempre e sempre...
Bj
Tô com muita saudade.
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