quinta-feira, março 29, 2007

Entre a tolice e o silêncio


Eu falo muito.
E falando eu descobri que o que falo é o que não sinto, sempre foi.
O que não falo é minha sabedoria,
O dom de fazer-me de tola põe a prova os homens e suas idéias mal formadas
Serve para conhecer suas entranhas, para assisti-los naufragar em um mar de vaidades infundadas.
Rindo-me por dentro,
Indignando-me por fora.
Pois o que sei é o que calo
É o que fica ecoando nas entrelinhas de um silêncio, quase fúnebre.
A sabedoria é uma mulher triste.
E só o coração sabe escutá-la.
Apenas duas mãos juntas podem dizer, palma a palma.
E a boca só entra na história como coadjuvante de um beijo
Pois beijo de amor se beija com a alma
E de corpo inteiro.
O meu beijo verdadeiro foi aquele que não dei
Aquele que está grudado em meu silêncio até hoje
E que me deixa sempre no limite de deixar pra trás quem amo
De virar-se contra tal objeto e com tal desinteresse fingir que acabou.
Sim, foi amando que aprendi a ser atriz.
Aprendi também a desprezar as tolices que saem da boca dos bem intencionados
Para apoiar-me em minha loucura
Sabendo que só ela, nas extremidades do que digo e do que guardo,
Do que é meu e do que sinto, poderia ser a única a salvaguardar minha dignidade.

sábado, março 24, 2007

O penitente




Eu trago a fome da áfrica no peito
eu tenho a peste negra e a peste bubônica
encerradas em meus nervos em flor
e os dentes que ainda me restam são feras enjauladas
prontas para a morte
eu possuo almas de guerreiros nos dedos
estraçalharia metade de mil exércitos num só ato
porque a outra metade sou eu
que não sei quem sou
que ando por um caminho semi aberto
metade dor, metade avesso de estrela
meus pés são torres de destruição
levando o contrário da boa nova
sou um mal exemplo necessário...
justiça divina em vestes de diabo
justiça no caminho errado...
sonhos perdidos pelo chão
um céu de inalcançadas glórias
minha sandália esquerda é de dúvida
a direita, reticência...
*eu estava refletindo na simbologia do arcano Xll