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De manso jorrado vem o gozoNas circunferências bizarras do corpoNos espaços arcaicosNas cavernas absurdas da pele, se exprime o laçoQuanto mais cai, mais cresceDe lado afago afogaOfegante arfadaQuerenando, baloiçando os navios náguaSubindo e descendo,
inspirar imenso , denso De nuvens e cheiros mensuráveis Em contorcionismo mágicoTudo que se torce sente prazerComo língua que sentiu saborNo suco quente do fruto que se doouComo corpo que achou em outro a vertigem própriaDos seres que se balançamO sumo do prazer de coqueiro é cocoQue vento vem e retorce dança ritmada das vagas nas alcovas,ou nãolá na escuridãoDor e prazer se difundem ventre abaixoSe confundem peitos, mãos, cabelos,Gritos acima, em cima, por cimaNem tudo que se contorce é dorNem tudo que é macio é travesseiroNos vultos que se movem Mistura fina de lábios grossos e exploração
O caracol sentou na janela olhando o pôr do sol, depois de rastejar o dia todo pela parede.Canseira e enfado era o que carregava nas costas.Tinha se encaracolado a tarde toda com o rastro gosmento que deixara. A questão primordial de sua existência era a indagação do porquê não nascera reto, desenrolado...o que seria de sua espécie se assim fosse? Quanto mais pensava nisso mais sentia o peso das voltas em suas costas, cansava também de andar em círculos, era muito em si lesmado aquele caracol...Seus pensamentos seguiam o mesmo sistema circular de seu corpo físico, pensava ele que fora condenado a um ciclo vicioso, que era praga dos deuses, sobretudo considerava-se indigno de tudo. E assim, ano após anos foi observando seu rastro ficar cada vez mais triste, mais denso, menos fluido...Um dia conversando com a nuvenzinha sorridente que se chamava Mariqueta, ela lhe perguntou que segredo ele guardava lá dentro de suas voltas.Sem saber, a nuvenzinha colocou o caracol em transe...esta era um pergunta demasiado profunda...Esta era uma pergunta dinâmica que pôs seus nódulos tão estáticos em choque...a se movimentar em ciranda...sentiu o êxtase de ser notado.Sentiu o absurdo de se sentir amado...E para ele a nuvenzinha era uma ser alado, superior, por isso havia sido colocada no céu...Assim o caracol se apaixonou pela nuvem sem notar que havia se apaixonado pela imagem dele que ela carregou...ela era seu único referencial, sua única lembrança...A questão era séria.Merecia atenção.A questão.O caracol então passou a se respeitar um pouco mais...seu corpo dobrou de volume, e sua língua bifurcara-se O que não foi interpretado por ele, nem assimilado, foi apenas aceito como fato e tal.Aquela bifurcação não era inteiramente desconhecida, agora ele poderia sentir a vida pelos dois lados.E isso foi tudo.Um dia o caracol acordou. Mas sua cauda estava maior...De repente ele crescera um pouco maisSe tivesse olhado um pouco acima perceberia que as voltas, em suas costas é que haviam diminuído...Sua casa ficara mais apertada, mas em compensação poderia impor mais respeito com sua longa caudaE por onde ia, era olhado com consternação pelos passarinhos...com medo pelos seus vizinhos...Um caracol da língua bifurcada e da cauda alongada não era lá algo comum por aquelas bandas...Sem perceber os dias passaram e ele ficou mais sérioAcostumou-se a usar apenas um lado de sua língua novaAcostumou-se a ser notado, acostumou-se com sua solidão assistida...Olhava paras as nuvens saudoso de sua Mariqueta e quando fez anos percebeu que não deixava mais rastro...Não liberava mais gosma.Ficou muito satisfeito então, tanto que resolveu que abriria um buraco no chão e viveria nas fendas das pedras, era preferível não sabia porque.Os dias passavam, as noites estrelavam...as crianças não riam mais perto do caracol, isso ele também não notara.Além de não haver notado que não era mais um caracol...Até que um dia se cansou de ser reto, de ter a língua bifurcadade ver a vida naquela velocidade, pensava o que seria de sua espécie se de repente ele fosse todo enrolado...Foi aí que de repente ele voltou a ser um caracol, mas também não percebeu.Agora se encontrava sentado e triste na janela, como se tivesse passado eras carregando o vazio em suas costas, pensando o que seria de sua espécie se de repente...