Eu não deveria ter olhado aquela luz
aquela...luz...
ofuscou meus olhos
olhos,
olhos,
olhos...
eu vi o olhar da luz no luar
eu acenei para a luz e olhei a luz bem no fundo dos olhos,
olhos, olhos...
e aquela luz acendeu os meus olhos no fundo, profundo
aquela luz me fez entender a cegueira do universo que era eu, que estava bem no centro da cegueira universal, eu era os olhos da cegueira mental de todas as coisas do mundo!
era eu por causa da luz... EU!
era eu sim e a luz me fez saber disso
pois eu não devia ter olhado pra ela
aquela luz ofuscou meu instinto de sobrevivência, estuprou algum pudor maldito plantado de erva daninha, a luz invadiu o meu centrismo vinculado absoluto, a luz estilhaçou minha dor de não ser mais nada além de egoísmo...a luz jogou fora todas as minhas palavras...
e pela luz eu dei uma volta em mim mesma, como planeta sem astronauta,
eu me abracei e descobri que eu estava despida...
eu estava nua dentro de mim!
quando a luz entrou não havia mais nada além de nudez, a minha nudez característica de pedinte.
no instante da mesma vivência...ência...ência...caracol, torre, meta-eu
nua,nua, nua-nua-nua-nua-nua...em repetência...
...
eu estive no fim antes de ir ao começo da eternidade, eu levantei as saias da eternidade
eu toquei a eternidade e ela era tão vulgar quanto eu era vulgar,
tudo sim por causa da luz, que corta, que sangra,que dói
e eu não quero mais sangue
não bebo mais sangue
eu tenho nojo de sangue ( por que sangue no escuro é doce?)
e me enojo também de todo ato em si mesmo que seja somente por si mesmo vivente
à humanidade não cabe a luz e sim a cegueira
que farei eu agora sendo humana que vê?
ou que sabe que não vê...
que não pode,
que não quer ver nada!
que está sendo continuamente agora, nesse agora de olhos e luz, o princípio reverberado da solidão, no grande vácuo do silêncio e mais nada!
e foi a luz quem fez a razão de tudo isso com apenas um toque e um olhar.
A luz me disse: Haja luz!
me acendeu,
e foi embora.