quarta-feira, janeiro 16, 2008


não há nada
não existe uma estrada aqui, não é por aqui.
o que esses olhos negros cansados vêem, é meramente nada.
nem mesmo olhos há?
-uma dúvida é um pingo de lágrima no travesseiro da solidão-
então não resta nada porque o que não existe não pode se sentir só.
só há ar
e mais nada,
não há solidão, há o pulmão
não há despojo, estou despida
não há o medo porque não há a presa para o espólio.
e não há vazio que preencha isso tudo que o nada criou.
nada assusta
assusta pela leveza que é de ser carregado
pois a leveza é um peso de uma culpa de não se ter cometido crime algum
culpa de não ter culpa
de não se ter fardo nenhum a ser carregado
enquanto tudo e todos vão pra lá e pra cá se levando pelo caminho
carregando o peso de seus próprios corpos imaginando ter o mundo nas costas,
eu digo com calma: não existe mundo, eu sou um trovão.
meus amigos abutres e eu esperamos quase cansados,
ocupados de esperar somente, grávidos de fome.
mas eles voam, eu nado
eu nado, tu nadas, ele nada
ninguém nada
e não se chega a lugar algum
enfado grátis na esquina do zero com o infinito.
ando por lá quando estou sem nada para fazer,
me encharco de nada e digo que...
não, eu não digo nada.
pois dizer o que há já é dizer alguma coisa
já é criar um caminho,
já é ter que ter tempo pra chegar,
já é se conjugar no espaço sobrepujando a forma antes milimetricamente
transitoriamente testada, advinda do não sei onde e indo pra o não sei quando.
sorte esse nada ter um começo e um fim...
que seja ele de mim,
uma vez que estou ao meio.