terça-feira, outubro 24, 2006

Vassala

Diga-me que é real

E realiza-me

Diga-me por entre esses cachos de beleza

Que por traz de cada letra

Existe uma voz

Densa, grave, suave

Que decodifica minha voz

Pelas letras densas, graves de tristeza

Ouça-me enquanto entro em tua respiração

E conta-me um pouco mais de mim mesma

Apresente-me as leis poéticas como se elas existissem

Guardião das minhas páginas vermelhas, amarelas e negras

Mensageiro de minhas letras

Que essa estrela que carregas no peito é agora toda minha poesia

Que roubaste minha inspiração

Sem intenção

Que roubaste meu sono

E agora dormes feito anjo ou não.

E sonhas em latim feito Cícero

Mas se tens uma estrela que é só tua

Então tudo podes

Se és céu para uma estrela

É porque tens coragem

Tens sensação a mais...

E eu uma tentação em dobro

Não pensar que existes

Sonhar apenas que brilhas distante

Quando já estás tão aqui...

terça-feira, outubro 17, 2006

do nascimento de Pazzia



Eu,
tentativa vã de querer renascer
o que em mim, deveria morrer
de nascer eu de mim todo dia
Eu,
sombra de esperança
que produz para si
vagas quimeras dissonantes
das quimeras dos amantes
Eu mais Eu
iludida criança em naufrágio real
que enxerga guarida
no bravio mar mesmo
que a sonhos da verdade engoliu
e em largos goles da fina taça
de morpheu
provou doce sabor de pesadelo
âs avessas...
minha doce criança
se fechas os olhos
medusas transformas em borboletas
e igualmente te parece suave o toque
das garras monstruosas de uma verdade,
enquanto dormes
a dança das monstrengas nádegas desta realidade
abençoam o alvorecer do teu maldito dia
'melhores dias virão' cantam para ti
morcegos qual pombinhas
branquinhas em distinto gorjeio
silencia, muito cuidado malfeitor!
não se contraria pura fé de menininha!!!
espere mais
noite que vem quero contar-me a mim
outra história de um certo eu distante
me escute de olhos abertos
e me apalpe essa lágrima que te escorre do rosto
teu retrato tangível
do mundo de cá
é meu sonho perdido
no mundo de lá...

domingo, outubro 15, 2006

No escuro



No desabrigo de luz onde me vejo

Ouso encarar sombras soltas no ar

Um pesadelo,

Na penumbra o clarão mais próximo

Que me acende a idéia

É o escuro cândido e convidativo

Que me incendeia

Encandeando brasas de necessidade clara

A opaca névoa de um pensamento

Como clareira aberta no mar

Desperdiça esforço de sobrevivente

Como fogo velho em escuro novo

Que só serve pra brilhar

Brilha no escuro o negro véu do entendimento

E pulsa cadente

Minha aflita angústia de meio dia...

Sem saber estar sendo vigiada

Tranqüila cá está minha inocência

A desenhar filmes em negra e densa tela de infinito

Tão inflamável quanto não se sabe

Estão

Meus olhos

Os olhos

Uns olhos,

No escuro em que os vejo.






ao contrário do que pensei, o escuro pode acender boas idéias x)

quarta-feira, outubro 11, 2006

( I )maculada


Eu sou uma Santa
Régia Vitória Branca da Paz,
Matrona das divinas miríades celestiais,
uma Santa
Bendita Senhora protetora dos desamparados,
Vossa Dama Dulcíssima, abençoadora dos coitados
sou Santíssima Senhora do reconhecimento culposo,
receptáculo de vitupérios e blasfêmias destinados ao louco
Madre Superiora do desespero legionário
advindos dos covardes,
a Mãe sofredora dos covardes
sou Nossa Senhora Coragem
Expiatória Sagrada da vossa culpa
Milagreira Amantíssima do extermínio moral
cujo poder se estende do zelo às horas de prece malditas
vai além das linhas confiscadas pela falsidade
até o círculo do desertor,
o infortúnio na mente do desertor,
guardo a mão e a língua da mentira sacra,
sou Rainha,
Régia Branca da vossa paz,
sou santa e estarei
a flutuar nas mãos corruptas do exército anônimo dos fracos,
a desculpa na boca dos fracos
a imagem no andor trôpego dos levianos,
rogarei por vós pecadores
na santa casa de orates
das ostentosas e pérfidas máscaras
confeccionadas com justo sangue.
Agora, até a hora da minha morte,
Amém.

segunda-feira, outubro 09, 2006

lamentinho


O cheiro fétido

Preso em minhas unhas

É marco de um instante

Memória podre que pus na estante

Cicatriz inescrupulosa de um fiel holocausto

De único nome

Essa lembrança perdida

Que me adentra as narinas

Arrasa também as cortinas de fumaça

Que me separam de dias que ainda não sei...

E vou me perdendo

Entre as narinas

As cortinas

E os dias fétidos ulteriores...

terça-feira, outubro 03, 2006

Tempo Meu


Eu quero entrar no tempo

como se ele fosse meu

quero tratá-lo como objeto de cunho pessoal ou como aposento.

Mais que isso, muito mais

quero que o tempo entre em mim

que fecunde em mim esse gosto de glória

de poder estar-se plena no desdobramento das horas

e em suas faculdades categóricas, minha consciência.

Traduzindo ao tempo a metafísica encarnada que sou

encravada em ponteiros, molestada em segundos,

volta ao mundo em segundos

desiguais...

Que ele me defraude os segredos que eu escondia de mim

que seja ele pessoa que me esbofeteie a face

e ria com sarcasmo dos meus planos

que ele é senhor cabeludo e de barbas brancas

um júpiter novo e másculo, ainda assim.

Que me traga o gozo como amante

do seu corpo que sou, templo profano em mim

Estou pronta, tomai-me o Tempo

sou esposa, sempre a espera...sempre quando me permita.

Com ganas de roubar-lhe a eternidade

para ocultá-la num recôndito indissolúvel,

paradoxo retumbante na efemeridade da forma.

Portanto, só ele poderia [ e ninguem mais? ]

ler meus olhos, ouvir meus ouvidos

e entender minha língua quando peço:

Senhor, guarde esse feixe de luz e suas tantas cores

não permita que passem despercebidas pelas retinas

que elas também sejam minhas,

deixe-me brincar de criança

enquanto sou velhinha!